Ácidos graxos livres no leite de plataforma
- Alan Frederick Wolfschoon Pombo
- 30 de set. de 1986
- 3 min de leitura
Atualizado: 27 de fev.
Resumo
Leites de plataforma de 163 fornecedores, representando onze linhas de fornecimento de leite do Instituto de Laticínios Cândido Tostes, foram analisados para quantificar os teores de ácidos graxos livres (AGL). Como média geral, foi determinado um teor de 0,744 meq AGL/l com um desvio padrão de 0,192 e coeficiente de variação de 25,8%. Noventa e três e nove décimos porcentos das amostras se encontram na faixa de 0,396 – 1,007 meq/l. Não foram detectadas diferenças significativas (p < 0,05) entre os teores de AGL do leite das diferentes linhas. Discutem-se os resultados em função dos tipos de lipólise (espontânea, microbiana e induzida) conhecidas.
Introdução
Dos lípides do leite cru, fresco, recém ordenhado, aproximadamente 98% são formados de ácidos graxos esterificados ao glicerol na forma de triglicérides, monoglicérides, fosfolípides, esteróis, carotemóides, vitaminas lipossolúveis (A, D. E, K) e traços de ácidos graxos livres (MABBIT, 1981). A gordura do leite encontra-se na forma de pequenos glóbulos, cujo diâmetro varia normalmente entre 0,1 e 10m e envoltos pela chamada membrana do glóbulo de gordura (McPHERSON; KITCHEN, 1983), que atua como emulsificante natural e permite a dispersão e estabilização da gordura (DARLING, 1982; McPHERSON; KITCHEN, 1983). Um modelo recente dessa membrana a esquematiza como uma camada composta de fosfolípides, esteres de colesterol e triglicérides, que rodeiam um centro gorduroso, coberto por uma envoltura de triglicérides de alto ponto de fusão, seguida de polipeptídios hidrofóbicos, enzimas e glicoproteínas; estas últimas com terminais orientados para a fase aquosa (McPHERSON; KITCHEN, 1983). Entretanto, essa membrana é susceptível a interações, das quais pode resultar outras, a hidrólise da gordura (lipólise) e, consequentemente, acúmulo de ácidos graxos livres (AGL), o que se manifesta como uma rancidez (rancidez hidrolítica) no “flavor” do produto (DOWNEY, 1980; SUHREN, 1981). Os principais ácidos graxos envolvidos no flavor do leite lipolisado são os de cadeia curta (butírico, capróico, caprílico, cáprico) enquanto que os mono e diglicérides originados participam dos compostos de “flavor” amargo do leite. Várias causas têm sido apontadas para a lipólise do leite, e três tipos de lipólise são atualmente aceitos: lipólise espontânea, induzida e microbiana (CHILLIARD, 1982; DOWNEY, 1980; SUHREN, 1981; KIRST, 1980). Sob condições práticas, interessa conhecer o somatório de todas as mudanças lipolíticas do leite, as quais podem ser quantificadas através da determinação dos ácidos graxos livres. Dos vários métodos existentes para a determinação dos danos feitos à gordura (por exemplo, HALTER et al., 1978; PATTERSON, 1963; THOMASOW, 1981; SELSELET-ATTOU, 1984; MAHIEU, 1983) a titulação dos AGL proposta por Mahieu (1983) foi escolhida para realizar o presente trabalho, no qual foram analisadas amostras do leite recebido na plataforma do Instituto de Laticínios Cândido Tostes.
Bibliografia
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